domingo, agosto 20, 2017

O futuro não pode ser o da intolerância

As cenas em Charlottesville, no final da semana passada, e as de Barcelona na última quinta-feira, não me saem da cabeça. Uma violência causada basicamente pela intolerância.  A necessidade de se "desarmar espíritos", nunca foi tão urgente. O que nos remete à uma reflexão mais apurada. Penso que a novidade está no fato da violência - estar cada vez mais perto de nós.  Ela é urbana e está no cotidiano das pessoas. Nas ruas, nas estradas, nos presídios, nas delegacias e dentro de casa. Alimentada pelas redes sociais, ela chega até nós - instantaneamente.

De repente, um fanático disposto a purificar o mundo está diante dos nossos olhos pronto para degolar o oponente. Logo em seguida você está assistindo as cenas de ódio racial em Charlottesville, nos EUA. Dois dias depois, uma van invade a Rambla de Barcelona e deixa um rastro de mortos e feridos. No domingo, 20, a manchete da capa da Folha de São Paulo é: "O Brasil registra dez casos de estupro coletivo por dia" (*).

A carga de violência e intolerância que nos chega é constante e crescente. Recentemente assistimos um jovem imigrante sírio, vendedor de esfirras, ser hostilizado em Copacabana. Que vergonha! Felizmente, ao seu modo, os cariocas deram o troco: tem fila na rua para comprar as esfirras do sírio. O preocupante, é o risco da humanidade se acostumar com a intolerância e o preconceito.

Quem trata com muita lucidez essa preocupação é Lira Neto, ao comentar o livro de Amós Oz "Mais de uma Luz: Fanatismo, Fé e Convivência no Século 21". Olhem só o  que ele extraiu do livro e reservou para a nossa reflexão:

-"O fanático nunca entre em debate. Se ele considera que algo é ruim, seu dever é liquidar imediatamente aquela abominação".
- "Todos os tipos de fanáticos tendem a viver num mundo em preto e branco"
- "A vacinação parcial que  recebemos está se esgotando: ódio; fanatismo; aversão ao outro a ao  diferente; brutalidade revolucionária. Tudo está ressurgindo", lamenta Amós Oz. (FSP 20/8)

PS- Aonde tudo isso vai parar, ninguém sabe. Há uma carência de lideranças e de inteligência.

(*) Números oficiais mostram que em 2011 foram 1570 estupros coletivos e em 2016 foram 3526. São só os casos notificados e praticados por mais de um agressor. Todos sabem que a violência sexual é historicamente subnotificada. Portanto, mais um caso que vem confirmar a violência urbana em toda sua dimensão. Como nos ensina Oz, "somos diferentes uns dos outros não porque ainda alguns de nós ainda não enxergam a luz, mas porque o que existe no mundo são luzes, e não uma só luz". 


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