segunda-feira, abril 16, 2018

O silêncio de Lula

O artigo de Janio de Freitas, sob o título "Estava escrito", FSP 8/4,  que me refiro no comentário de sexta (13), não me sai da cabeça. O trecho em que faz referência ao silêncio de Lula para preservar dona Marisa de sua própria ingenuidade, não pode ficar sem resposta. Afinal, quem usou da boa fé ou da ingenuidade de dona Marisa no caso do apartamento de Guarujá? Por acaso foi o delator Léo Pinheiro? Se foi, outra pista levantada por Janio de Freitas tem que ser apurada. Por que todos os envolvidos na operação Lava Jato, citados por Janio de conhecerem os fatos, estão calados? Nesse caso, ao que parece, o silêncio não é dos inocentes.

O projeto Lava Jato, se não for devidamente explicado, pode se transformar numa ferida permanentemente aberta. Como um câncer, corroendo a sociedade. Para muitos juristas de renome, como Nabor Bulhões, a prisão de Lula foi "prematura" e "desprovida de legitimidade constitucional". Imaginem então, se ela ainda estiver associada a um grande embuste. O que vai ser de nós...

Nesse momento com a prisão de Lula e as eleições chegando, as dificuldades vão aflorar. No campo político, a falta de liderança capaz de contornar a crise - é real. Os ruídos que vem de setores radicalizados da sociedade, estão sem filtro. Segundo Bulhões, no Supremo os ministros se posicionam conforme o momento sem considerar suas convicções e o princípio da legalidade. Já em relação aos outros dois poderes, não há o que comentar. No Executivo saem 10 ministros, e ninguém sentiu falta. Entram outros 10, e ninguém sabe quem são. No Congresso, na semana passada, mais de 60 deputados trocaram de partido. Muitos ilustres desconhecidos, mas todos de olho nas eleições. Uma vergonha!

Diante desse quadro nada animador, Nabor Bulhões, sem citar nomes, se volta ao judiciário: "Não se pode combater a corrupção violando-se direitos e garantias constitucionais. Da mesma forma  que não se pode conceber que juízes possam decidir matérias relacionadas a esses temas sensíveis alinhando-se a movimentos de combate à corrupção e à impunidade. O juiz tem que ser isento e imparcial para absolver ou condenar, tendo sempre como norte a incontornável garantia do devido processo legal". (*)

(*) Nabor Bulhões, 67, é um dos maiores especialistas em Supremo. Atua no STF há 35 anos.


PS - Quando esse comentário estiver disponível, vou estar chegando em Berlim. Durante a semana,  à convite do governo da Alemanha,  participo do 4º Berlin Energy Transition Dialogue, promovido pelo Federal Ministry of Economics Affairs and Energy. São temas que me motivam: mobilidade e energia do futuro. Agora, que coincidência: a Alemanha, ao substituir o princípio da legalidade pelo sentimento da nação, nos levou a Segunda Guerra Mundial. Uma tragédia histórica. Já em Berlim, seu vergonhoso muro, por décadas foi o retrato de uma sociedade dividida.  Claro que o Brasil, não tem nada a ver com isso.  É só coincidência...  


Nenhum comentário: